domingo, maio 30, 2010

CULTURA- BLOG DA GUARARÁ JARDINS PUBLICA ENTREVISTA INÉDITA COM LADY GAGA, NA APRESENTAÇÃO DA TURNÊ MONSTER BALL, EM HAMBURGO, ALEMANHA. CONFIRA JÁ:

NO MOMENTO, A PROFISSIONAL QUE MAIS MOVIMENTA A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA, TENDO EM VISTA O MAIOR SHOW-BUSINESS DO MUNDO POP.



A equipe observou que a pequena mulher_ bem menor do que se imagina_ aparece sobre forte maquiagem e cílios postiços, porém, revelando seu verdadeiro rosto, isto é, sem máscaras ou pinturas abstratas. Pequena e franzininha, Stefani Germanotta demonstra ser, de fato, uma fortaleza dentro e fora dos palcos; um ícone inovador do underground para o pop moderno.

POR STÉPHANE DAVET, DO LE MONDE. A ENTREVISTA CAI NAS GRAÇAS DO NOSSO PÚBLICO COMO MAIOR REVELAÇÃO, HÁ 15 DIAS ATRÁS, MAIS PRECISAMENTE, NO DIA 15/05/2010. AOS FÃS DE LADY GAGA, UM PRESENTE DO BLOG DA GUARARÁ JARDINS.
Nossos Agradecimentos à Lana Lim pela tradução.


Para sua primeira grande turnê, a Monster Ball, estaria Lady Gaga (nome artístico de Stefani Germanotta) à altura das imagens extravagantes com as quais inunda a cultura pop desde o lançamento de seu primeiro álbum, “The Fame” (2008), que vendeu mais de 10 milhões de cópias?

Os espectadores de Bercy, onde essa nova-iorquina de 24 anos fez, no dia 21 de maio, seu primeiro show da turnê francesa, encontraram uma generosa dose dos ingredientes que fazem sua fama. Cercada por vinte dançarinos, backing vocals e músicos, em um cenário de uma Nova York sombria, Lady Gaga se afirma, mais do que nunca, como herdeira extrema de Madonna. Sexo sado-masoquista, espetáculos trash, fantasias gay e góticas habitam vídeos, figurinos e coreografias em um jogo constante entre avant-garde e sedução. O público também descobre uma musicista, durante uma longa sequência no piano, e uma cantora capaz de sustentar um fôlego melhor que suas concorrentes.

No dia seguinte, sábado, encontramos a estrela no camarote de Bercy, três horas antes de seu show, mas já em sua personagem. Com cabelos presos em um coque grisalho, saia revelando meias arrastão, blusa vermelha decorada com um colar de metal, o ícone pop chega, amável, equilibrando-se sobre impossíveis sandálias de plataforma. Menor do que se imagina, assim que começa a entrevista ela retira seus grandes óculos escuros Chanel, revelando um rosto de olhos castanhos e cílios postiços, nariz longo, e lábios desenhados com um batom perolado.

Le Monde:
Seu espetáculo remete a uma linhagem de artistas do entretenimento, Jerry Lee Lewis, Madonna, Liza Minelli, Marilyn Manson. Você sente-se parte de uma tradição?
Lady Gaga: Essas pessoas são, para mim, as mais talentosas e influentes da História. A tradição do show-business é algo que respeito de verdade. É por isso que acredito tão firmemente na vida como espetáculo. Sou completamente dedicada ao show-business, a cada momento de cada dia.

Le Monde: Seu espetáculo está cheio de referências a Nova York. Em quê essa cidade a influenciou?
Lady Gaga: Nova York e meus amigos nova-iorquinos são minhas musas. A forma como fui descoberta através dessa cidade, através da solidão, a luta diária por meu trabalho e a inspiração, tudo isso me construiu.

Le Monde: Seu coletivo de artistas, Haus of Gaga, também retoma uma tradição nova-iorquina, a da Factory de Andy Warhol?
Lady Gaga: Não sei se podemos fazer essa comparação, ainda que eu me interesse muito por Warhol. Acredito na tradição do trabalho coletivo, na fama como meio de colocar jovens designers, músicos, produtores, estilistas no centro das atenções.

Le Monde: A Haus of Gaga também cuida do marketing?
Lady Gaga: Cada pessoa é seu próprio negócio, vejo a forma como se vive uma espécie de plano de automarketing. Ninguém me “marketeia”, eu sou quem eu sou.

É realmente o tema de “The Fame”, o que é a celebridade: uma forma de apresentar ao mundo sua confiança em si, seu individualismo, seu feminismo. Isso não tem nada a ver com as revistas, com as câmeras, mas sim com o autoconhecimento.

Le Monde: Você demorou para adquirir essa certeza?
Lady Gaga: Sempre me senti como uma anomalia meio monstruosa. Nem sempre tive a coragem de assumir isso. Minha coragem veio dos meus fãs. O conceito da turnê Monster Ball é fazer essa viagem ao “baile dos monstros”, uma viagem para dentro si mesmo, para sua liberdade.

Na Monster Ball, você não é julgado. Ali celebra-se aquilo de que se tem vergonha, as coisas que queremos esconder. Teve uma época em que eu não me sentia bonita o suficiente, talentosa o suficiente. Essas frustrações se tornaram uma ambição. Alguém disse: “A necessidade de se ter a última palavra é para os imbecis que não disseram o suficiente”. Não preciso ter a última palavra, mas certamente preciso ser ouvida.

Le Monde: Durante o show, você diz detestar o dinheiro. Você não é um produto industrial?
Lady Gaga: Há vários anos venho tentando destruir a relação que existe entre dinheiro e fama. Antes, o show-business era uma experiência quase religiosa. Ninguém ligava para quanto ganhava John Lennon, Mick Jagger, David Bowie... o que contava era suas personalidades. Cresci em uma escola para ricos. Depois me mudei e vivi sem dinheiro em um bairro pobre. Eu me considero uma especialista nesses dois modos de vida.

Le Monde: Você nunca sentiu que poderia perder o controle de sua criatura, Lady Gaga, e que um dia seria preciso matá-la?
Lady Gaga: Acho que precisaria matá-la se ela se tornasse controlável. Gosto do fato de que ela não o seja.

Le Monde: Às vezes você parece mais inovadora em seu trabalho visual do que em sua música.
Lady Gaga: (irritada) “Bad Romance” é certamente a música pop mais inovadora desses dez últimos anos. Faço música que as pessoas querem assistir. Graças a mim, o cenário da rádio americana mudou para sempre, sendo que a música pop havia se tornado um palavrão e que a dance music não valia mais do que 40 segundos na rádio FM.

Le Monde: Você tentou diferentes tipos de música. Você sente que tateou muito antes de se tornar Lady Gaga?
Lady Gaga: É preciso se tornar um especialista em diferentes coisas antes de encontrar seu caminho. Tocar ragtime, música clássica, cabaré, ser capaz de entender o que liga Bach a uma canção de Whitney Houston. Demorei muito tempo com isso. Quando escrevi “Just Dance”, comecei a sentir que podia conectar a mentalidade underground com uma música pop, e se isso não é inovador, não sei o que é.


Lady Gaga - Just Dance

http://www.youtube.com/watch?v=X4CsUkdlOgY